"That was due to Crabtree's expertise and flair during a wine tasting that lasted until sunrise, and that is still remembered in the neighbouring town of 'Vila Real´as the "Night of the Englishman', that Don José Mateus first realised the potential of his Estate's Rosés as suitable for the English palate"

Santos, Bartolomeu dos, 'Joseph Crabtree and the Caliph of Fonthill', 1985, in The Crabtree Orations (1954-1984), ed. Brian Bennett & Negley Harte, The Crabtree Foundation, London, 1997
.
.

21.5.08

Artigo do Diário de Notícias ( 17.9.06) - "Bush e Michey atacados com areia e tintas"

Depois de quatro décadas a ensinar os saberes que o consagraram na gravura, Bartolomeu Cid dos Santos regressou à pintura. E um dos campos que elegeu desafiar foi o da guerra. Em Sinais dos Tempos, a exposição que até 15 de Outubro tem patente na Amadora, na Galeria Municipal Artur Bual, o alvo é ditado pela actualidade noticiosa.

George W. Bush, tanques, helicópteros, soldados, petróleo, Samarra e a Torre de Babel, citações de estadistas e políticos, referências a filmes (Triunfo da Vontade, Good Morning Vietnam, Apocalipse Now), Samuel Beckett, as palmeiras das paisagens estereotipadas ou o gigante da indústria do fast food, tudo surge neste conjunto de trabalhos com um único propósito: a denúncia.

"Como é que a gente pode ignorar o que se está a passar à nossa roda? Não pode", diz com firmeza. Por isso transformou Mickey em rato combatente e combatido, recuperou frases certeiras em inglês e atacou as telas tantos anos depois das primeiras pinceladas que atirou à ditadura de Salazar.

Acrílico, papel de jornal, areia ou ferro entraram, assim, nas composições a que dedicou os últimos três anos. Entre bandeiras, graffiti e camuflados, o carácter corrosivo atravessa as sucessivas camadas de matéria destas figurações. Muitas delas "premonitórias".Os Sinais dos Tempos inspiraram também uma instalação composta por duas peças escultóricas. De uma caixa de madeira sai uma silhueta em ferro e num lado lê-se "Import Only", no outro a oferta de viagens a Guantanamo em voos silenciosos da CIA. Da segunda caixa sai uma águia cravejada de balas ("alvo da tropa" que o artista encontrou e guardou durante anos), e o "Export Only" traz, no reverso, uma lista de países e territórios invadidos pelos EUA.

A exposição inclui ainda duas séries de gravuras: Birth of an All American Boy, criada em 2001 para uma mostra da Universidade da Georgia organizada em Itália (a obra, conta, irá para o British Museum); e Invasion, que o autor ofereceu ao jornalista Robert Fisk, especialista em Médio Oriente. Bartolomeu Cid dos Santos já apre- sentou todos estes trabalhos na Galeria 111, em 2005, e gostaria de os levar aos EUA. São, como lhes chama, o seu "olhar para fora".

O "olhar para dentro", metafísico, espelhou-o em gravuras de labirintos, mapas e sereias, nas paredes do metro de Entrecampos ou nas ilustrações para livros de Pessoa, Saramago, Nuno Júdice ou García Lorca - exemplares que também se mostram na Amadora, a par de algumas fotografias e catálogos. Dois registos diferentes do mesmo artista, bem fáceis de explicar: "Um é o Bartolomeu, o outro é o Santos." (PL)