"That was due to Crabtree's expertise and flair during a wine tasting that lasted until sunrise, and that is still remembered in the neighbouring town of 'Vila Real´as the "Night of the Englishman', that Don José Mateus first realised the potential of his Estate's Rosés as suitable for the English palate"

Santos, Bartolomeu dos, 'Joseph Crabtree and the Caliph of Fonthill', 1985, in The Crabtree Orations (1954-1984), ed. Brian Bennett & Negley Harte, The Crabtree Foundation, London, 1997
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4.6.08

Herança

In "JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias", 4.6.08

Estou rodeado pelos cartões de Natal que o Bartolomeu desenhava e enviava aos amigos, essas imagens com que connosco partilhava os seus olhares sobre o mundo. Ao revê-los agora, todos juntos, passa por mim a fita dos anos de uma amizade longa e franca, sempre divertida e desinteressada, feita à roda de festins, de livros e de montes de historietas, de muito humor e ironias sem fim, de grandes cumplicidades e de não menos esperanças comuns.

Através deles vêm-me à memória feliz as muitas noites de Londres, os almoços e os fins de ano em Sintra, um jantar à margem do Gilão, na única vez que o visitei em Tavira. Pelas paredes, fica-me a sua caricatura das “troupettes” da Slade e a bela imagem, com nota carinhosa, que me dedicou sobre a Europa.

Por alguns anos, e pela sua mão, embarquei na deliciosa aventura de “venerar” um personagem imaginário, Joseph Crabtree, por mor de quem nos juntávamos, com quase duas centenas de outros maduros, num jantar anual no University College, vestidos a rigor, e de onde, por elementar precaução, sempre saíamos de táxi, tal o saldo etílico das libações.

Quase que aposto que é o gozo desse mundo interior de liberdade, onde exercitava a sua genialidade, alimentada com a sua alegria quase adolescente, a verdadeira herança que ele sempre nos quis deixar.

Nem o oceano que tínhamos de permeio, nem o peso de outras obrigações justificam, minimamente, que eu não tenha sabido estar com o Bartolomeu num tempo em que a presença dos amigos mais lhe era necessária. Sei que ele me perdoa, mas vou viver com isso.

Francisco Seixas da Costa