10.8.09
A Tribute to Bartolomeu dos Santos
16.9.08
A hosts exhibition for Barto
* Exhibition consists of 22 pieces of Barto’s work Barto has done work depicting the current wars in Iraq and Afghanistan * Barto’s works span the globe and are housed at art museums in New York, London and Paris
Staff Report
LAHORE: To honour and commemorate the life and works of one of the 20th century’s most influential printmakers, Bartolomeu Dos Santos, the Zahoorul Akhlaq Gallery at the National College of Arts (NCA) will host an exhibition of his prints on Tuesday (today).
The exhibition consists of 22 art pieces, which have been gathered by various art collectors in Pakistan. The prints displayed at the exhibition show a master artist at work, who has never hesitated to carry out bold experiments.
Seven Figures Waiting (one of the prints) shows seven people standing in the dark looking at the bright side of the moon. The print is quite eye-catching and gives a gesture of serenity and tranquillity. Triumph of Love Over War (another print) shows a fairy sitting on a cannon. It’s supposed to suggest that love has finally won over war. The work is quite profound and shows how a master can make extraordinary things using quite ordinary materials.
The NCA is exhibiting Bartolomeu’s work to commemorate his life and works, Zahoorul Akhlaq Gallery Curator Qudsia Rahim said, adding that Bartolomeu had visited Pakistan twice, once in 1986 and again in 1988. She said that both times he had held workshops at the NCA. Former NCA principal, and a collector of Bartolomeu’s works, Salima Hashmi said that Bartolomeu was a great friend of Pakistani art, adding that he had helped establish the Department of Printmaking at the NCA. She said that he was a great person and one of the greatest artists of the age. “He has contributed immensely to printmaking,” she said. She added that he had studied at the Slade School of Arts and helped several artists in obtaining admission to teaching institutes in the UK. Work: Universally known as Barto, the artist grew up under the Salazar dictatorship in Portugal before moving to England where he made his career as a great printmaker. His initial work had a clear political aspect to it, and his later work included subjects that implied a commentary on the current wars in Iraq and Afghanistan, along with the United States’ agenda in its engagements. Critics said that at such times, he reverted to painting and sculptures, demonstrating that he had the vigour to explore and revisit other mediums to express himself.
Train station: Barto is also the author of various works that range from an airline menu to a 1,000 square metre mural for an underground train station. His works have been exhibited widely and resides in the permanent collections of various prestigious institutions such as the British Museum, the Museum of Modern Art in New York and the Bibliotheque Nationale Paris. The exhibition will continue until September 26.
14.8.08
Mentiras, Loucuras e Mortes
(a propósito de)
SINAIS DOS TEMPOS
Bartolomeu Cid dos Santos
Pintura/Gravura/Instalação
Galeria Municipal Artur Bual / Amadora
«Toda a arte traz o cunho da sua época histórica, mas a grande arte é aquela em que esse cunho está mais profundamente marcado»
Henri Matisse, Escritos sobre Arte
«(…) Panurgo, sem dizer nada, lança ao mar alto o seu carneiro que guincha e bale. Todos os outros carneiros, guinchando e balindo no mesmo tom, começaram depois a saltar e a lançar-se ao mar um após outro. Depois de o primeiro ter saltado, todos os outros o seguiram. Não era possível impedi-los, pois como sabeis, é da natureza dos carneiros seguirem sempre o primeiro, para onde quer que este vá. Assim diz Aristóteles, liv. IX, de História Animal, chamando-lhe o mais insensato e imbecil animal do mundo.»
Rabelais, O Quarto Livro dos Feitos e Ditos Heróicos do Bom Pantagruel
«O sono da razão engendra monstros»
Goya
A obra de Bartolomeu dos Santos é de grande singularidade no quadro da arte contemporânea. Percorre-a uma inquietação sem limites que o faz mergulhar na aventura do mundo para o interrogar e questionar em todos os azimutes. Propõe questões que problematizam as relações entre o mundo colectivo e o mundo individual, os encontros e desencontros do consciente e do subconsciente fluindo sem desfalecimentos na areia da ampulheta do tempo, «O tempo presente e o tempo passado / são, talvez, presente no tempo futuro / e o tempo futuro contido no tempo passado» (T. S. Elliot referido por Bartolomeu dos Santos). Do tempo exterior padronizado, medido normativamente e do tempo interior que se mede idiossincraticamente com a razão e com a paixão. Essa tessitura do tempo é sinalizada por Bartolomeu com obras de arte onde cintilam ideias, mistérios, memórias, homenagens, viagens, indignações, acusações. São uma volta ao mundo em todos os dias.
Não existem fronteiras entre Gutte Nacht, a pretexto da Viagem de Inverno, uma homenagem vibrante a Schubert, e Um Amante e Zeloso da Pátria, ave de rapina ameaçando Portugal de Abril, ou entre as diversas gravuras inspiradas pela Ode Marítima e a extraordinária Homenagem a Cesário Verde, onde as muitas referências literárias e visuais iluminam o retrato esbatido do poeta, e a Barca dos Loucos, O Guerreiro Lusitano ou as sequências de batalhas presentes nesta exposição e que, sendo uma denúncia mais imediata e evidente do estado de guerra contínua de baixa intensidade com que o império agonizante e sem fim previsto procura assegurar o futuro, são sobretudo denúncias da imoralidade da mentira não só por violar a verdade mas, sobretudo, por se ter transformado na insolência arrogante de nos tomar por insensatos e imbecis.
E não existem fronteiras porque para Bartolomeu as obras de arte são na sua essência cosmopolitas, defendem a liberdade de espírito, o poder criador do indivíduo frente à tirania do gosto massificado, são parceiras das inovações das ciências e das técnicas, estão do lado dos valores democráticos e revolucionários. Obras de arte que, hoje como antigamente, devem ser um testemunho, não fugaz nem pobre, da vida em toda a sua dimensão.
Em tempo de vacuidades e vulgaridades, a obra de Bartolomeu, e está muito bem acompanhado em todo o mundo, não participa da decadência artística em que se tropeça por todo o lado e em todos os lados, sustentada por um aparelho conceptual de requentados clichés apresentados como novidade, maquilhagem espessa que tapa e disfarça a pele enrugada de conceitos velhos e relhos, com a febrilidade sonambúlica da curiosidade de procurar com forçada avidez o novo para saltar para outro novo, sem se demorar em lado algum, como já havia sido tão bem descrito por Santo Agostinho e que Gadamer precisou «(…) uma curiosidade que provoca o tédio e o esgotamento, porque no fundo, o seu objecto não diz respeito a ninguém. Não há qualquer sentido para o espectador. Não existe nada nesse objecto que convide o espectador a voltar a ele realmente, nada em que possa concentrar-se. A qualidade formal da novidade é, com efeito, a alteridade abstracta». Experiências artísticas que se impõem como juiz de si próprias, autolegitimando-se, doxa que se inscreve no quadro actual da ideologia dominante e que são o kitsh do aparato ideológico totalitário do pensamento único.
Uma nebulosa inquietante e de decadência artística que Nietzsche premonitoriamente tinha descrito «(…) pelo facto da vida já não animar o todo. A palavra torna-se soberana e irrompe fora da frase, que transborda e obscurece o sentido da página, e a página ganha vida em detrimento do conjunto: o todo já não forma um todo. Mas esta imagem vale para todos os tipos de décadence: é, sempre, anarquia dos átomos, desagregação da vontade. (…) Em toda a parte, a paralisia, a fadiga, o entorpecimento ou então a inimizade e o caos (…) O todo já não tem qualquer vida: é compósito, calculado, artificial, um artefacto.»
Se, com o propósito de facilitar o entendimento, a obra de Bartolomeu for sistematizada por temas, obtém‑se uma estimulante abordagem, caminho para uma profunda análise académica, mas perde-se a perspectiva da sua inserção no movimento histórico e a compreensão ideológica do seu tempo que se consegue ordenando‑a cronologicamente, entendendo-se que as ideologias são as ideias, os valores e os sentimentos através dos quais os homens tomam consciência, nas diversas épocas, da sociedade em que vivem e que, algumas dessas ideias, valores e sentimentos só são acessíveis pela arte, o que é bem evidente em toda a obra de Bartolomeu dos Santos.
Homem culto e erudito, artista do seu tempo e do seu mundo em que a visão filosófica, política e poética acompanha a evolução estética e formal, sendo tudo sempre integrado no trabalho que mantém em ritmo intenso. Olhem-se os labirintos e as esferas que irrompem nas gravuras de Bartolomeu nos anos 70, provocando inquietudes e interrogações tão peremptoriamente decisivas para visitar o mito da Atlântida (Atlantis, Atlantis Revisited, The End of Atlantis) como para anunciar os mistérios de The Visitor, Figure in Space, Great Monolith ou para perscrutar as leituras do Mare de Guine, The Future of Gold is Assured e Tratado de Tordesilhas. Tal como o são as múltiplas referências literárias, cinematográficas, visuais, de memórias e viagens, de almoços e conversas que se incorporam com naturalidade na vasta obra artística de Bartolomeu sem sofrer descontinuidades e de passo sempre acertado com o tempo. Uma obra artística que não aceita o mundo como ele é. Que o recria, revelando a sua natureza de produto construído. E ao comunicar essa consciência de energia produtiva a quem olha para as suas obras, Bartolomeu está a acordar neles energias semelhantes em vez de se limitar a satisfazer os seus desejos de consumidores.
Nesta exposição, intitulada Sinais dos Tempos, a primeira nota é para rejeitar liminarmente qualquer tentativa de a menorizar na base da falsa distinção entre arte e propaganda ou da arte e política, separação que contumazmente a critica presunçosa e burguesa faz. Distinção que colocaria fora dos parâmetros do que é arte artistas como Vertov, Meyerhold, Malevitch, Eisenstein, Piscator, Maiakovski, Shostakovich, Brecht, entre tantos outros que nos estão temporalmente próximos ou de Michelangelo (a Capela Sistina não será uma notável obra de propaganda e glorificação do deus católico?) ou Gericault ou etc. Defenda-se que toda a arte é progressista e que a arte fechada aos movimentos históricos-sociais da sua época, divorciada de uma consciência do que é historicamente central relega-se a si própria para um estatuto secundário. Tese decorrente é a que Ernst Fischer e de outro modo Walter Benjamim explanam de que a arte transcende sempre os limites ideológicos da sua época, dando uma percepção das realidades que se encontra ocultada pela ideologia. Acontece, muitas vezes acontece, que isso seja produzido por artistas politicamente conservadores como Ezra Pound, Lawrence ou Bacon, muitíssimo distanciados de uma arte genuinamente revolucionária mas que opõem o seu conservadorismo radical aos valores caducos da sociedade burguesa liberal, o que se enquadra no princípio da contradição formulado por Marx e Engels nas análises ao desenvolvimento económico da sociedade capitalista, e que os mesmos transpuseram quando se detiveram nas artes afirmando claramente que «as ideias políticas de um autor podem estar em oposição àquilo que a sua obra objectivamente revela». Donde se infere que a questão de saber ou medir quão progressista deve ser uma obra de arte para ser válida é uma questão histórica que não pode ser resolvida dogmaticamente, como o quiseram fazer Estaline ou Mao-Tsé-Tung, provocando uma devastadora ofensiva contra as artes e afundando-se no pior reaccionarismo ideológico, sustentado teoricamente numa vulgata marxista-leninista desviante.
Olha-se para estas pinturas, para estas gravuras, para estes dois objectos escultóricos de que nos podemos aproximar com o fascínio de quem se aproxima de barco de Nova-Iorque e vê crescer para si a estátua da Liberdade para de golpe ser chamado à realidade acordado do sonho pela imagem da esperança de Chaplin a ser amarrada em molho com a dos outros emigrantes. Aqui também somos imediatamente chamados à realidade pelo enorme impacto visual dessas duas formas de enorme estranheza onde já mal se reconhece a imagem original corroída pelo tempo, perfurada de balas a que serviram de alvo. Estão implantadas em plintos, caixotes contentores cujo conteúdo é revelado pelos rótulos. Um descrimina todas as invasões directas dos Estados Unidos da América a outros países e deixa-se, cautelarmente, espaço branco para acrescentar a próxima. Outro promete férias no campo de concentração de Guantánamo, pedaço de território de Cuba ocupado pelos americanos. Cuba que curiosamente foi a ilha que albergou o primeiro campo de concentração do mundo, em 1896, quando era colónia espanhola.
Uma primeira visão desta exposição, para se ir à profundeza do que se vê, enfrentando a dureza do tema confrontado com a delicadeza do traço, com a suavidade das velaturas, lembra-nos a relação de Perseu com a Medusa, como Ovídio relata (liv. IV) nas Metamorfoses. Não se pode enfrentar directamente a Medusa, cujo olhar transforma em pedra tudo o que fixa. Perseu, orientando o combate pelo que vê no metal polido do seu escudo, decapita-a. Agarra a cabeça do monstro pela cabeleira de serpentes, regressa a casa. No caminho detém‑se num rio para lavar as mãos. Tem que pousar a cabeça para que o olhar da Medusa não prossiga o seu trabalho maléfico. Perseu delicadamente faz, em cima da areia grossa, uma cama de folhas e algas nascidas debaixo de água onde depõe a cabeça da Górgona de cara para baixo. O extraordinário é que quando o herói recolhe a cabeça do monstro, as algas em contacto com o olhar da Medusa tinham-se transformado em corais.
Conhecerá Bartolomeu esta Metamorfose de Ovídio? Homem de tantos saberes e conhecimentos provavelmente conhece-a, mas o que é certamente mais provável é não se ter apercebido que quando empreendia este trabalho estava, com delicadeza só comparável à de Perseu, a construir uma barreira de coral para isolar o monstro incorpóreo que nos assalta os dias, desmontando as brutalidades, as manipulações de quem «quer governar, e continuar a governar, (pelo que) tem de ser capaz de alterar o sentido da realidade» (G. Orwell). A barreira de coral que Bartolomeu construiu e continua a construir defende a realidade de perder o norte, de deixar de se reconhecer entre verdades e mentiras. Não deixa adormecer a razão.
Aqui, nesta exposição, obra a obra, Bartolomeu dos Santos, centrando-se nas intervenções dos Estados Unidos da América no Médio-Oriente, desconstrói com ironia e indignação a longa tradição de os EUA se considerarem nação redentora, usando esse conceito para promoverem a pilhagem do mundo em proveito próprio e imporem o seu modelo ao mundo, construindo uma pirâmide de juízos simplistas que ignoram as dúvidas dialécticas, as angústias de Hamlet, o desassossego de Pessoa, para se contentarem com a platitude de Mickey Mouse.
Rato assexuado, amante da fast-food, alegremente banal, de sangue tépido e personalidade temperada é despido por Bartolomeu para mostrar o ser maléfico que as aparências escondem e ei-lo que salta da barca de Nosferatu para com violência destruir, invadir, ser chefe, cumprir ordens, organizar reuniões enquanto Bush estuda as obras de Pirro, Miss América Sucks, ou um herói sem cabeça para sustentar o chapéu colonial enterra em terra conquistada um padrão encimado por uma águia de olhar perdido que não consegue ver nova versão de The Triumph of the Will porque Leni Riefenstal já não tem sopro de vida para chegar a esta batalha. Tudo decorre naquele ambiente de guerra estranho, brutal, difuso que conhecemos de Apocalipse Now, de Platoon, de Full Metal Jacket e que Bartolomeu recupera pontuando-o com referências a Beckett, Conrad, grafittis que recolheu, entre outros locais, nos bunkers da Ilha Terceira, memórias de Samarra, da Torre de Babel, do olhar doce de uma árabe que se escapa do chaddor, das palmeiras e do cheiro a petróleo e do som dos helicópteros que mancham um céu que deveria ter existido antes destes enxames malfazejos o alterarem.
Muitas das imagens que surgem nestas obras estão vulgarizadas pelos media e a habituação entorpece o juízo, como assinalava Montaigne, mas aqui adquirem a força de nos esmurrarem o quotidiano. Um helicóptero que sai de um ecrã de televisão quase sem darmos por ele, entra numa gravura ou numa pintura de Bartolomeu e torna‑se num vírus mortal que nos ameaça. O nosso juízo é desperto, duplamente desperto: para a intimação e para a obra de arte que nunca perde a sua identidade.
Com o imenso saber de anos a fazer incisões em placas de metal com ácidos e pontas secas elaborando imagens que se transportam para os papéis, retornando aos pincéis e às tintas que tinha deixado repousar mais de trinta anos, Bartolomeu dos Santos escreve estas páginas da história trazendo-as para a história de arte, surpreendendo pelas audácias formais caldeadas pela inclusão de referências eruditas que nunca são supérfluas e que tornam para nós o seu pensamento mais claro, mais lógico, fazendo com que cada obra produza um acréscimo de conhecimento estético e ideológico.
8.8.08
Bartolomeu Cid dos Santos - Artist who found freedom in London and fame in Portugal
The artist Bartolomeu Cid dos Santos, who has died aged 76, first came to Britain in 1956 "as a way of escaping the oppressive cultural desert that was then-fascist Portugal, where, as someone once said, 'What was not allowed was forbidden,' ideas included." London offered an environment where speech was free, where his teachers at the Slade School of Art were not his enemies, and where he could express his radical beliefs without risking imprisonment. Much of the rest of Dos Santos's life and career were divided between London and Portugal, where he was considered one of the country's major artists.
He was immensely well-read, and his greatest work is the etched limestone panels he created for the murals in the atrium of the Lisbon underground station serving Portugal's National Library. The central section, covering 1,000 sq m, depicts an immense library containing the country's finest literature.
Dos Santos was born in Lisbon into a family of doctors and art collectors. His grandfather took the young Barto around the galleries and museums of western Europe. Initially schooled in Strasbourg, from 1950 to 1956, Dos Santos studied at the Escola de Belas-Artes in Lisbon, where there was no library and discussion was discouraged. A book, Charme de Londres, with images by the Swiss photographer Isis, inspired him to move there. On the basis of a few watercolours and drawings, he was accepted at the Slade. His interview was conducted by Sir William Coldstream who, years later, said to him, "I didn't understand a word you were saying when I interviewed you," to which Dos Santos replied, "Neither did I understand your English."
At the Slade neither of the two dominant styles of painting - one derived from David Bomberg, the other from the more cerebral Euston Road school - was sympathetic to his own ideas. However, his tutor, William Townsend, introduced him to the etcher Anthony Gross, who had studied in Paris and Madrid, had an understanding of European culture, and introduced Dos Santos to Goya's prints. The blackness - both literal and figurative - of Goya's etchings profoundly affected Dos Santos, who realised that the photographs of London by Isis which had initially excited him were not totally alien to Goya's vision. London, although still ravaged by wartime bombing, fascinated him, but he remained captivated by Lisbon, "a Latin city of Mediterranean character ... which made me look introspectively into a more private, metaphysical world dominated by light, shadows and silences. These two parallel and apparently contradictory approaches have since then pervaded all my work."
Primarily, Dos Santos was a printmaker, employing a combination of etching and aquatint (a process that he taught to fellow Portuguese artist Paula Rego). During the 1960s, when Portugal was in the midst of its colonial wars, he created a series of prints of bishops - petrified cadavers surveying putrefying ruins of its decaying empire. In the context of the time it was considered dangerously subversive. Later prints were full of rats triumphant in a world grown fat on its own pestilence.
Between 1961 and 1996 Dos Santos taught printmaking at the Slade, eventually being elected a fellow of University College London and in 1996 emeritus professor in fine art of the University of London. A man of great charm, he was revered as a teacher and his MA course at the Slade attracted an international body of students. He believed that they should have as broad an education as possible - a trip to the British Museum was a vital part of their training. He held a number of visiting professorships abroad, and was elected a fellow of the Royal Society of Painter-Printmakers in 1990.
Dos Santos held 84 one-man shows in Europe, the far east and the Americas. Examples of his work can be found all over the world including the British Museum, the Victoria and Albert, Cambridge, the Bibliothèque Nationale, Paris, the Museum of Modern Art, New York and the Gulbenkian Foundation, Lisbon. His murals include a chapel at São Pedro de Muel in Portugal and railway stations at Reboleira and Pragal, near Lisbon. Dos Santos also conceived and decorated the commemorative monument to Portugal's 1974 revolution in Grãndola.
Dos Santos married twice: firstly to Susan Plant, by whom he had three daughters, and secondly to Fernanda Paixão, all of whom survive him. An extrovert and optimist, Barto was a big man who, each year, on August 24 - a day in Portugal when traditionally the devil is said to walk abroad - held a birthday party in Sintra, where he had his Portuguese home. At its centre was a vast refectory table he had shipped out from University College for his friends to sit around, eat, drink and talk.
Bartolomeu Cid dos Santos, artist and teacher, born August 24 1931; died May 21 2008
29.7.08
Memória de exposição em 2004
28.7.08
Despedida a Bartolomeu Cid dos Santos
As cinzas do artista plástico Bartolomeu Cid dos Santos falecido, no passado dia 21 de Maio, em Londres, irão ser lançadas ao Rio Gilão, em Tavira, no dia 02 de Agosto, Sábado, pelas 18h00. A Câmara Municipal de Tavira e a Casa das Artes de Tavira têm agendado um programa de homenagem a este artista plástico tavirense:
11h00- cerimónia de despedida, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, onde lhe será prestada a última homenagem.
18h30 - será descerrada a placa toponímica “Escadinhas Prof. Bartolomeu Cid dos Santos” (antigas escadinhas do Alto de Santa Ana).
19h00 - inauguração da exposição “Bartolomeu XXI”, na Casa das Artes.
No site da CMT, podemos ler umas notas sobre a sua vida:
«Bartolomeu dos Santos nasceu, em Lisboa, em 1931 e formou-se, na Escola Superior de Belas-Artes, entre 1950 e 56, e na Slade School of Fine Art, entre 1956 e 58. (...) Em Tavira cumpriu o serviço militar. Em 1995 criou um Centro/ Atelier de Gravura com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Associação da Casa das Artes, onde artistas nacionais e estrangeiros executam os seus trabalhos. Realizou exposições no Palácio da Galeria e na Casa das Artes de Tavira. Em 1998 realizou, nesta cidade, um workshop internacional integrado no programa Caleidoscópio. Foi membro da Comissão Municipal de Arte da Câmara Municipal de Tavira e recebeu, em 2005, a Medalha de Mérito Municipal».
Bartolomeu Cid em documentário de Jorge Silva Melo
Bartolomeu Cid dos Santos vai ser retratado num documentários de uma hora para a RTP2, na série “Figuras Relevantes da Cultura Portuguesa”, realizado por Jorge Silva Melo.
26.7.08
Tavira despede-se de Bartolomeu dos Santos
As cinzas do artista plástico Bartolomeu Cid dos Santos, falecido no passado dia 21 de Maio, em Londres, vão ser lançadas ao Rio Gilão, em Tavira, no próximo dia 2 de Agosto.
A cerimónia de despedida tem início a partir das 11 horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, sendo em sua honra descerrada, pelas 18:30 horas, a placa toponímica “Escadinhas Prof. Bartolomeu Cid dos Santos” (antigas escadinhas do Alto de Santa Ana) e inaugurada a exposição “Bartolomeu XXI”, na Casa das Artes, pelas 19 horas.
Recorde-se, Bartolomeu dos Santos nasceu em Lisboa, em 1931, e formou-se na Escola Superior de Belas-Artes, entre 1950 e 1956, e na Slade School of Fine Art, entre 1956 e 1958. Foi professor de gravura na Slade School de 1961 a 1996.
Em Portugal, destacou-se a retrospectiva no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (1989). A par disso, participou, também, em diferentes exposições colectivas. É autor de intervenções de arte pública em várias cidades e países. Está representado em diversas colecções particulares e museus internacionais.
O artista cumpriu o serviço militar em Tavira e em 1995 criou um Centro/ Atelier de Gravura com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Associação da Casa das Artes, onde artistas nacionais e estrangeiros executam os seus trabalhos. Realizou exposições no Palácio da Galeria e na Casa das Artes de Tavira. Em 1998 realizou, nesta cidade, um workshop internacional integrado no programa Caleidoscópio. Foi membro da Comissão Municipal de Arte da Câmara Municipal de Tavira e recebeu, em 2005, a Medalha de Mérito Municipal.
24.7.08
Cinzas de Bartolomeu dos Santos lançadas ao Rio Gilão em Tavira
As cinzas do artista plástico Bartolomeu Cid dos Santos, falecido no passado dia 21 de Maio, em Londres, vão ser lançadas ao Rio Gilão, em Tavira, no dia 2 de Agosto, sábado, às 18h00.
A cerimónia de despedida terá início às 11h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Tavira, onde lhe será prestada a última homenagem.
Em sua honra será descerrada, às 18h30, a placa toponímica “Escadinhas Prof. Bartolomeu Cid dos Santos” (antigas escadinhas do Alto de Santa Ana) e inaugurada a exposição “Bartolomeu XXI”, na Casa das Artes, às 19h00.Bartolomeu dos Santos nasceu, em Lisboa, em 1931, e formou-se, na Escola Superior de Belas-Artes, entre 1950 e 56, e na Slade School of Fine Art, entre 1956 e 58. Foi professor de gravura na Slade School de 1961 a 1996.
Foi professor visitante na Universidade de Winsconsin, National College of Art em Lahore, Umea Konstskolan na Suécia, na Academia das Artes em Macau e Professor Emeritus da Universidade de Londres. Foi membro da Royal Society of PainterPrintmakers.
Foi Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Realizou diversas exposições individuais na Europa, Estados Unidos, Brasil e Extremo Oriente.
Em Portugal, destacou-se a retrospectiva no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (1989). A par disso, participou, também, em diferentes exposições colectivas.
É autor de intervenções de arte pública em várias cidades e países. Está representado em diversas colecções particulares e museus internacionais.
Em Tavira, cumpriu o serviço militar. Em 1995, criou na cidade algarvia um Centro/ Atelier de Gravura, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Associação da Casa das Artes, onde artistas nacionais e estrangeiros executam os seus trabalhos.
Realizou exposições no Palácio da Galeria e na Casa das Artes de Tavira. Em 1998 realizou, nesta cidade, um workshop internacional integrado no programa Caleidoscópio.
Foi membro da Comissão Municipal de Arte da Câmara Municipal de Tavira e recebeu, em 2005, a Medalha de Mérito Municipal.
23.7.08
Câmara Municipal de Tavira
As cinzas do artista plástico Bartolomeu Cid dos Santos falecido, no passado dia 21 de Maio, em Londres, irão ser lançadas ao Rio Gilão, em Tavira, no dia 02 de Agosto, Sábado, pelas 18h00.
A cerimónia de despedida terá início, pelas 11h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, onde lhe será prestada a última homenagem. Em sua honra será descerrada, pelas 18h30, a placa toponímica “Escadinhas Prof. Bartolomeu Cid dos Santos” (antigas escadinhas do Alto de Santa Ana) e inaugurada a exposição “Bartolomeu XXI”, na Casa das Artes, pelas 19h00.
Bartolomeu dos Santos nasceu, em Lisboa, em 1931 e formou-se, na Escola Superior de Belas-Artes, entre 1950 e 56, e na Slade School of Fine Art, entre 1956 e 58. Foi professor de gravura na Slade School de 1961 a 1996.
Foi professor visitante na Universidade de Winsconsin, National College of Art em Lahore, Umea Konstskolan na Suécia, na Academia das Artes em Macau e Professor Emeritus da Universidade de Londres. Foi membro da Royal Society of PainterPrintmakers. Foi Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Realizou diversas exposições individuais na Europa, Estados Unidos, Brasil e Extremo Oriente. Em Portugal, destacou-se a retrospectiva no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (1989). A par disso, participou, também, em diferentes exposições colectivas. É autor de intervenções de arte pública em várias cidades e países. Está representado em diversas colecções particulares e museus internacionais.
Em Tavira cumpriu o serviço militar. Em 1995 criou um Centro/ Atelier de Gravura com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Associação da Casa das Artes, onde artistas nacionais e estrangeiros executam os seus trabalhos. Realizou exposições no Palácio da Galeria e na Casa das Artes de Tavira. Em 1998 realizou, nesta cidade, um workshop internacional integrado no programa Caleidoscópio. Foi membro da Comissão Municipal de Arte da Câmara Municipal de Tavira e recebeu, em 2005, a Medalha de Mérito Municipal.
3.7.08
Uma questão de homenagem
Fui ontem à Assembleia Municipal de Sintra, fundamentalmente, lembrando como não deve tardar a homenagem pública que é devida a Gabriela Llansol e Bartolomeu Cid dos Santos.
Homenagem pública é aquilo que toda a gente sabe. Pode revestir diferentes figurinos mas sempre perspectivará a apropriação comum da memória de alguém que, não fora essa atitude cívica e pública, permaneceria na penumbra de gabinetes, estudado por iniciados, pois muito dedicados à causa da divulgação da obra do homenageado, mas algo distantes da realidade quotidiana do vulgar cidadão.
Oxalá me engane mas parece-me que, no caso de Gabriela Llansol, escritora absolutamente excepcional, em toda a acepção do termo, mas algo difícil de acesso para o leitor comum, o que está a acontecer em Sintra coincide com o que venho de escrever na parte final do parágrafo precedente. Com a melhor das intenções - não o nego e até sublinho com o maior apreço - a Câmara Municipal e um grupo de estudiosos do mais alto gabarito para o trabalho que se propõe sobre o espólio de Llansol, arriscam-se a concretizar uma tarefa altamente meritória, cujo fim essencial é a divulgação da obra da escritora mas, receio, durante demasiado tempo, afastados do público. Enfim, veremos.
Quanto a Bartolomeu, lembrei aquilo que ele próprio, várias vezes, me disse constituir um desgosto que gostaria pudesse ser remediado. Já o assinalei na evocação que sobre o meu amigo escrevi neste blogue em 26 de Maio, também publicado pelo Jornal de Sintra quatro dias mais tarde. Refiro-me ao lamentável estado de degradação da casa de Mily Possoz (1889-1967), que morreu em Sintra, hoje esquecida artista com um lugar tão interessante e original na história do movimento modernista português.
Não sei até que ponto a Câmara Municipal de Sintra poderá intervir no sentido de ir ao encontro da vontade de Bartolomeu. Mas, facto curioso porque constituiu coincidência de propósito, ontem, na mesma sessão da Assembleia Municipal, a CDU aporesentou um projecto de homenagem que me parece preencher todos os requesitos, ou seja, da possibilidade de atribuir o seu nome ao recém inaugurado Centro Cultural de Mira Sintra.
Muito naturalmente, o Presidente da Junta de Freguesia de Mira Sintra, solicitou que a proposta fosse presente ao colectivo da autarquia a que preside no sentido de colher o seu parecer. Trata-se, naturalmente, de uma formalidade que, de qualquer modo deve ser enaltecida como louvável prática democrática. Não tenho a menor dúvida de que os fregueses de Mira Sintra vão sentir-se altamente honrados com a homenagem que, por essa via, Sintra presta a um dos mais prestigiados artistas portugueses, pintor, gravador do mais alto nível, professor e director de uma das melhores escolas de artes plásticas em todo o mundo.
Artista eminente, grande senhor da cultura portuguesa, Bartolomeu Cid dos Santos vai permanecer entre nós, em Mira Sintra, num centro cultural que, acolhendo tal patrono, dá um inequívoco sinal de investimento nos valores da grande Arte e no respeito pela tríade matricial da cultura moderna, da Liberdade, Igualdade e Fraternidade que ele tanto prezava.
1.7.08
Estela Baptista Costa na apresentação do seu livro
Hoje foi o lançamento do livro de co-autoria com o Pedro Ribeiro Dias, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. Foi apresentado pelo Rui Zink e correu muito bem. Eis o meu texto de agradecimento :
Quero muito agradecer ao Pedro Ribeiro Dias por tão prontamente ter mergulhado nesta aventura, ao João Ribeiro por se ter apaixonado por este projecto e lhe ter dado asas, à Casa Fernando Pessoa que nos acolheu para esta apresentação, assim como ao Rui Zink que, gentilmente, nos brindou com a sua presença para apresentar este livro. Quero também agradecer aos amigos que sempre estiveram por trás da minha motivação e me têm ajudado a manter o fôlego debaixo de água, muito em especial ao José, à Teresa e aos Pedros da minha vida.Dedico este livro também aos meus sobrinhos: Pedro João, Tatiana e José Francisco e a todas as outras crianças da minha vida, a começar por aquela que ainda habita em mim.
Quero ainda dedicar este livro a um grande senhor, artista plástico e amigo, que nos deixou no passado mês de Maio numa nebulosa tarde de Londres, o Gravador Bartolomeu Cid dos Santos que me ensinou os segredos escondidos da Gravura.
29.6.08
Fundação José Saramago
Nota no final do texto comemorativo do 1º aniversário da Fundação José Saramago:
E, por fim, para Rogério Ribeiro e Bartolomeu Cid dos Santos o nosso comovido carinho: foram os primeiros a retratar a obra de Saramago, os primeiros a morrer, são os mais amados dos nossos corações.
20.6.08
In "Academia das Artes apresenta atelier"
Os trabalhos em exposição são da autoria de Ana Roseira, Beatriz Rodrigues, Catarina Castelo Branco, Isabel Silva Melo, José Cruz, Ludomila Esteves, Manuela Braga, Maria João Castro, Martim Cymbron, Nina Medeiros, Paula Mota, Sofia Brito e Urbano, artistas, arquitectos e designers que passaram pelo atelier, quer durante o workshop de gravura, orientado por Bartolomeu Cid dos Santos, referência nacional na utilização desta arte plástica, quer ao longo de todo o ano, em utilização livre.
(...)
A criação deste atelier, há muito ambicionado pela Academia das Artes, contou com a colaboração de Bartolomeu Cid dos Santos, que idealizou todo o projecto e acompanhou o processo de montagem, e só foi possível devido ao apoio da Direcção Regional da Cultura, que ao abrigo do projecto ARTCA financiou as obras de adaptação do espaço e a aquisição de equipamentos necessários para o seu pleno funcionamento.
(...)
Apesar de já estar anteriormente programada, esta exposição pretende também ser um agradecimento e uma homenagem a Bartolomeu Cid dos Santos, falecido recentemente.
(...)
Que papel desempenhou Bartolomeu Cid dos Santos na implementação do atelier?
Ele foi extremamente importante. Quando vim para a direcção da academia tinha acompanhado o processo de criação deste espaço e a primeira actividade que quis desenvolver foi o workshop com o Bartolomeu. Ele já tinha cá vindo e conhecia a academia, e através de troca de correio electrónico, com desenhos e pequenos esboços, ele conseguiu idealizar a organização do material no espaço destinado ao atelier. Ele montou vários ateliers por todo o país, penso que este foi o último…
O facto de Bartolomeu Cid dos Santos ter falecido recentemente dá outro significado à exposição?
Já tínhamos a ideia de fazer a exposição, mas na inauguração da exposição, em sua homenagem, fiz uma pequena faixa com as fotografias do workshop, que foi muito útil para mim porque fiquei responsável pelo atelier e estava completamente esquecida das técnicas. Ele fez este esforço em vir cá, e penso que foi muito importante também para ele, porque adorava gravura e era mesmo considerado o “senhor da gravura” a nível nacional. Esta exposição é como um “obrigado”, porque, sem ele, não conseguiríamos montar o espaço.
18.6.08
Homenagem em "Dizedores"
12.6.08
Bartolomeu Cid dos Santos
Bartolomeu dos Santos 1931-2008
12 June 2008
By Rebecca Attwood
An acclaimed Portuguese artist who taught printmaking at the Slade School of Fine Art for 35 years has died, aged 76.
Bartolomeu dos Santos, known as Barto, started at the school as a student in the 1950s following his undergraduate studies in Portugal and stayed on until his retirement in 1996.
As head of printmaking at the Slade in the 1960s, he was instrumental in the expansion of printmaking to postgraduate level at the school, part of University College London. He was also president of the Friends of the Strang Print Room, UCL's art collection, and a generous benefactor through gifts of artists' books and prints.
He divided his time between London and Portugal, and his many works included large-scale tile pieces for the Entrecampos metro station in Lisbon, a metro station in Tokyo and for the National Museum in Macau.
"He was a big personality - very gregarious - and very generous," said Slade director John Aiken. "He inspired loyalty from his students and involved them in things once they'd left. He worked with students on some of his big projects, and made sure they had opportunities to exhibit."
Professor dos Santos combined his hands-on approach to teaching with an impressive cultural knowledge. "He had a huge knowledge of literature and he was very interested in themes that reflected the history of Portugal - for example, navigation and its history as seen through the work of poets.
"There was a strong political content to his work, which had to be slightly 'underground' during the dictatorship in Portugal, and then, subsequently, the revolution. In recent years that political content has come up in a very overt way - it has been very much about the Iraq conflict and commenting on American politics. He felt very strongly about that and produced a whole body of new work."
This saw Professor dos Santos return to paintings, sometimes featuring graffiti-like messages, and sculpture. Professor Aiken said: "He didn't settle into old age in a kind of comfortable way. He kept wanting to make a lot of noise and he succeeded."
He was a guest artist at many art schools around the world, and held visiting professorships that included posts at the University of Madison and the National College of Art in Pakistan. His works are held in collections including the British Museum, the Victoria and Albert Museum and the Museum of Modern Art in New York.
A cultural institute is being established in Tavira in Portugal, where he had his studio, to house his collection of prints and drawings.
Professor dos Santos died on 21 May from cancer, and is survived by his wife Fernanda, his three daughters by his first wife Susan, and his two stepsons.
4.6.08
Professor Bartolomeu dos Santos: Creative printmaker and teacher at the Slade School of Fine Art
Bartolomeu dos Santos was always proudly Portuguese, and he came to be proudly Anglophile too; he made his career in England without losing any of his Portuguese roots. He became a well-known and widely admired artist in both countries, and indeed throughout the world. He was a wonderfully creative printmaker and a magnificent teacher of printmaking.
Bartolomeu dos Santos – Barto as he was universally known – was born in Lisbon in 1931, where his father was a surgeon of distinction and a well-read bibliophile, and evidently a powerful influence. Barto spent six years at the Escola Superior de Belas Artes in Lisbon, between 1950 and 1956. He then came to London for what was intended to be a short period of further study. The day he entered the Slade School of Fine Art at University College London in October 1956 was to transform his life.
His registration card at the Slade records his signing up for a single "graduate non-diploma year" – no degrees in art for either undergraduates or graduates in those days – and at the end of his first year in June 1957 he was awarded the first prize for etching. "I did not know what the word etcher meant," he said later. "But I soon found out, and with it the potentialities of aquatint with its deep, profound blacks and beautiful half-tones that Goya understood so well."
For the rest of his life Barto was fascinated by "deep, profound blacks and beautiful half-tones", and in 1956-57 he came to be permanently in love with the Slade, with London, and with Professor Sir William Coldstream.
Coldstream, the Slade Professor, was for a generation a commanding figure: slight, darting, dapper, always in a suit and tie and waistcoat, brilliant in conversation, exuding a constant brisk irony. Barto dos Santos could not have been more different. Always larger than life, never in a tie or a suit, always with some sort of hanging medallion, not remotely interested in committees or business; social occasions he thought were for food and drink and laughter and fun, not for decision-making or planning. But Bill and Barto hit it off. They immediately came to like and to deeply admire each other both as people and as artists. Barto dos Santos was never to leave the Slade.
He could do a brilliant tight-lipped imitation of Coldstream speaking. Dos Santos stayed on for another year. His teachers were William Townsend and Anthony Gross, the one English, the other introduced to him as "a European". He admired them both. For dos Santos the tolerant attitude at the Slade, the constant discussion of everything, was a breath of fresh air after his youth in Fascist Portugal. The theme of freedom versus imprisonment was to produce recurring images in his art. He stayed to teach at the Slade, joining the full-time staff in 1961, becoming Head of Printmaking and eventually in 1994 was belatedly given the status of a full Professor of Fine Art. His academic advancement was much slower than his creative endeavour, or his remarkable influence as a teacher.
The 50 years after his arrival at the Slade in fact witnessed an explosion of creativity. Dos Santos's prints were shown at the Arts Council's "Young Contemporaries" exhibition in 1957, and also at the first Gulbenkian Exhibition of Modern Art in the same year in Lisbon. There was to be no year in the next 50 when he did not show work in an exhibition, and there were to be over a hundred one-man shows, not just in Britain or in Portugal, but all over Europe, the Americas and Asia.
Dos Santos travelled with enthusiasm. He was a Visiting Professor at the University of Wisconsin at Madison in 1969 and 1980; at Umea in Sweden in 1977, 1978 and 1982; at the National College of Art in Lahore, Pakistan, in 1986, and frequently in the 1980s and 1990s at the Academia de Artes Visualis in Macao. He was a visiting lecturer or external examiner at practically every British college of art.
His creativity knew no bounds. Menu cards for Air Portugal; covers and illustrations for books; large-scale murals in etched limestone for the Lisbon underground station serving the National Library, with clever references to Portuguese literature; the huge monument at Grandola to the 1974 revolution in Portugal which freed the country from Fascism; a further etched mural for an underground station in Tokyo.
Barto dos Santos was a craftsman of great skill and also humour. "His personal myth," wrote a perceptive critic from King's College, "is expressed as a metaphor of freedom and release, a journey into liberating space. Here, his explicit or implicit reference is to the world of the arts: music and literature – a Schubert score, a poem by Pessoa – the world of the liberated imagination." His distinctive prints are in almost every important collection in the world – the British Museum, the V&A, the Ashmolean, the Fitzwilliam, the Bodleian, the Albertina in Vienna, the Bibliothèque Nationale in Paris, the Museum of Modern Art in New York.
Barto dos Santos was also a leading member of the Crabtree Foundation, that semi-secret society at the heart of UCL. He delivered the Crabtree Oration in 1985, a brilliant performance on "Joseph Crabtree and the Caliph of Fonthill", and was president of the foundation in 1993. The lunch he gave as president at the Anglo-Portuguese Society at Canning House was quite memorable; I was late for my research seminar (which meets at 5.15pm) and knew I was to have little recollection of the seminar.
For a decade or more, he and his wife Fernanda entertained former Crabtree orators and other elders of the foundation every other year for a splendid party at their spectacular house in Sintra, varied by a visit to Tavira, the pretty old fishing port on the south coast of Portugal where the Gulbenkian Foundation had contributed to provide him with a studio. There he welcomed talented young printmakers to a sort of recreation of his printmaking studio as an outpost of the Slade.
He was honoured in 1995 by his election as a Fellow of University College London. He continued to move frequently between his houses in London and Sintra, spreading enlightenment and enjoyment to a wide circle of friends. Recovering apparently well from one cancer, he was zapped by another. He died in University College Hospital, a stone's throw across Gower Street from his beloved Slade.
Negley Harte
Bartolomeu dos Santos, artist and printmaker: born Lisbon 24 August 1931; teacher, Slade School of Fine Art, University College London 1961-96, Professor of Fine Art 1994-96 (Emeritus), Fellow 1995-2008; married first Susan Plant (three daughters), secondly 1988 Fernanda Oliveira Paixao (two stepsons); died London 21 May 2008.
Bartolomeu Marinheiro
Estou com cinquenta e tal anos e em férias sabáticas, coisas que nunca me tinham acontecido ao mesmo tempo. E foi assim que pude aceitar a hospitalidade do meu bom amigo Bartolomeu Cid dos Santos, na sua bela casa mais amada do que usada, entre serras que não mudam nunca e águas do mar que nunca estão quedas. Excepto que, sendo Primavera e o mar ficando ainda longe, basta ir ao terraço para constatar que são as serras de Sintra que diariamente se transformam e as águas da Praia Grande que parecem sempre fixas. Não se deve ter demasiada confiança em metáforas em segunda mão.
Foi isto em 1990, e é assim que começa o meu romance Partes de África, publicado no ano seguinte, com capa, é claro, do Bartolomeu. Além da casa e das metáforas havia, por toda a parte, a presença ausente do meu generoso anfitrião, que discretamente se deixara ficar em Londres enquanto eu escrevia, mas que estava em tudo que ali me rodeava. Quem conhece o Bartolomeu sabe que ele é - recuso-me a usar o pretérito - sabe que ele é um coleccionador de memórias, até de si próprio. Havia uma tapeçaria renascentista e ex-votos de capelas de província, o modelo de um longo veleiro de três mastros, louças da Companhia das Índias e um grande prato com um projecto da bandeira da República no centro, a esfera armilar rodeada pela divisa “Ordem e Trabalho”, à maneira brasileira. E, em cima de um contador, entre retratos e uma miríadade de objectos, um postal, em letra infantil, que começava: “Meu bom Amigo”. O “bom Amigo” era o Afonso Lopes Vieira, que oferecera ao pequeno Bartolomeu (de nove anos?) aquele seu livro onde há um poema a dizer que o mar era dantes um quarto escuro onde os meninos tinham medo de ir. E que termina dizendo que foi um português que o foi abrir. Mau poema, óptimos sentimentos. Depois da morte do probo Afonso, o postal voltara para o remetente. Obviamente que o poeta do quarto escuro apreciara o postal, tinha-o preservado. E certamente não tanto por esse “Meu bom Amigo” de boas maneiras precoces, ou pelo que o texto dizia e que se calhar a mãe ou o pai disseram que o menino devia dizer, mas porque terminava com a assinatura espontânea e decidida: “Bartolomeu Marinheiro”. E, por baixo, o desenho de um barco, a lápis de cor.
Há muitos barcos nas gravuras do Bartolomeu. Em 1961, fez uma exposição em Lisboa que incluía uma das suas melhores gravuras de sempre, “Portuguese Man of War”. É uma nave num mar pontuado por alforrecas a explodirem em volta. Dentro da nave, dois militares, um bispo, uma mulher, uma boneca de criança. O título é intraduzível: em inglês, designa uma espécie particularmente venenosa de alforreca. Mas ninguém, em Portugal, terá tido dificuldade em traduzir a imagem dessa nave singrando num escuro mar de alforrecas explosivas. É, que eu saiba, a primeira obra da iconografia portuguesa contra as guerras coloniais. Bartolomeu é um artista socialmente empenhado. A sua arte foi sempre – quase sempre – um acto de intervenção que pressupõe uma perspectiva ideológica e, portanto, também política. Mas por isso ele também é, e sempre foi, um viajante em mundos alternativos: cidades imaginárias, jardins expectantes, corpos desejados, espelhos mágicos, labirintos, mares de sereias. E fez um retrato de Fernando Pessoa – “Fernando Pessoa Antes de Ser Grande” – como um menino (de nove anos?) com camisa de marujo (emprestada pelo Bartolomeu?). Pois é: todos os artistas falam do mundo e dos outros a partir de si próprios.
Parece que, quando se está a morrer, a última coisa que vai é a capacidade de ouvir. Foi o que disse a enfermeira, uma chéca loira e muito bela, que há vinte anos vê a morte todos os dias e ainda não se habituou. Além dela, estávamos quatro com o Bartolomeu: a Fernanda, a Kate, a Paula e eu. Ele estava ligado a tubos e com aquela máscara transparente que põem sobre o nariz e a boca para as máquinas irem respirando em vez de quem já não consegue. Parecia uma máscara de aviador, como nos spitfires dos filmes de outros heroísmos, não de marinheiro. Cada um de nós tinha um pedaço de braço ou de mão por conta, para ele sentir que não estava a ir sòzinho. E íamos dizendo coisas, disparates, o que conseguíamos, caso ainda ouvisse: “Ah, Bartolomeu Marinheiro, vê lá isso, rapaz!”. Às dez horas e trinta e cinco a enfermeira chéca desligou as máquinas.
Helder Macedo
Herança
Estou rodeado pelos cartões de Natal que o Bartolomeu desenhava e enviava aos amigos, essas imagens com que connosco partilhava os seus olhares sobre o mundo. Ao revê-los agora, todos juntos, passa por mim a fita dos anos de uma amizade longa e franca, sempre divertida e desinteressada, feita à roda de festins, de livros e de montes de historietas, de muito humor e ironias sem fim, de grandes cumplicidades e de não menos esperanças comuns.
Através deles vêm-me à memória feliz as muitas noites de Londres, os almoços e os fins de ano em Sintra, um jantar à margem do Gilão, na única vez que o visitei em Tavira. Pelas paredes, fica-me a sua caricatura das “troupettes” da Slade e a bela imagem, com nota carinhosa, que me dedicou sobre a Europa.
Por alguns anos, e pela sua mão, embarquei na deliciosa aventura de “venerar” um personagem imaginário, Joseph Crabtree, por mor de quem nos juntávamos, com quase duas centenas de outros maduros, num jantar anual no University College, vestidos a rigor, e de onde, por elementar precaução, sempre saíamos de táxi, tal o saldo etílico das libações.
Quase que aposto que é o gozo desse mundo interior de liberdade, onde exercitava a sua genialidade, alimentada com a sua alegria quase adolescente, a verdadeira herança que ele sempre nos quis deixar.
Nem o oceano que tínhamos de permeio, nem o peso de outras obrigações justificam, minimamente, que eu não tenha sabido estar com o Bartolomeu num tempo em que a presença dos amigos mais lhe era necessária. Sei que ele me perdoa, mas vou viver com isso.
Francisco Seixas da Costa
29.5.08
In Memoriam - José Cutileiro
1931-2008 Considerado o gravador português mais importante e apreciado do século XX, dirigiu o departamento da Slade School of Fine Arts, em Londres, de 1961 até à reforma em 1996
Bartolomeu Vilhena dos Santos de seu nome de registo e Bartolomeu dos Santos desde quase a seguir à sua chegada à Slade School of Fine Arts de Londres (onde haviam andado Jorge Vieira e Paula Rego e andava nessa altura João Cutileiro) em meados da década de cinquenta do século passado, conhecido antes disso como jovem artista português por Bartolomeu Cid, do apelido francês da avó paterna, inteligente e divertida, que lhe comprava aguarelas por vinte mil reis cada uma quando ele era ainda o Babalhú, andava a tirar o curso do liceu na Escola Valsassina, a duas portas de casa, e ninguém levava a sua ambição a sério, morreu quarta-feira passada em Londres, e foi, para o geral das pessoas que apreciam artes plásticas, o gravador português mais importante e apreciado do século XX cujas obras - gravuras tiram-se em séries - ficarão a ilustrar paredes nas casas dos seus muitos clientes e admiradores e em galerias e museus por esse mundo fora. Tendo sido convidado a suceder ao inglês Anthony Gross na chefia do departamento de gravura da Slade em 1961 e aí se mantendo até à reforma em 1996, relançou essa arte menos vistosa do que a pintura e a escultura e criou gosto público renovado por ela. Pintores conhecidos contemporâneos fizeram também gravuras mas estas aparecem nas respectivas obras como parentes pobres. Não foi assim com Bartolomeu - Barto, na Inglaterra onde trabalhou tantos anos da sua vida e onde teve três filhas.
Críticos escreveram e escreverão sobre a sua arte. Leigo que sou, olhando para algumas gravuras que ao longo dos anos fui trazendo para casa e para outras em exposições ou em casa dele, atingem-me sempre duas coisas. Uma é - por falta de melhor termo - uma espécie de sopro poético, um arrebatamento que sinto mais forte ainda nas vistas de rios ou de mares, com em sem árvores; outra, quase constante, mais ou menos explícita, é o sentido da presença da História. Ao lado da obra de arte há o artista e, nesse seu papel, o que havia de melhor no Bartolomeu era a sua completa falta de pretensão. Lembro-me de um episódio típico. Em 1968 ou 69 fui ter com ele um fim de tarde ao seu ateliê na Slade, onde aprontava uma gravura, rectângulo comprido posto na horizontal, com o Tamisa à noite e o recorte de construções na margem, peça magnífica de serenidade e inspiração mesmo antes de acabada. Levantando entre o indicador e o polegar da mão direita uma rodela de cartolina, Bartolomeu perguntou, com voz de palco, entre retórico e interessado na resposta: “Ponho uma lua ou não ponho uma lua?”.
A História não se afirma só nas suas gravuras; vivia constantemente com ele. Era coleccionador inveterado (houvera outros, no lado Vilhena da família) e muito do que juntava tinha a ver com os lugares e as pessoas do seu passado, gostos e manias dessas pessoas, as suas próprias predilecções ao longo da vida. Era exaustivo e metódico. Há poucos anos mostrara-me dois bilhetes da Panam Faial-Lisboa, para o avião Clipper, que o pai, médico militar na Horta durante a guerra, não chegara a usar, guardados na «pochette» original da companhia. De resto, errar entre livros e objectos na casa de Sintra era deambular pelo passado histórico e cultural da Europa (incluindo da Alemanha; os pais, coisa rara entre nós, tinham-lhe mandado ensinar alemão e música).
Ter o Bartolomeu perto era viver em festa. Grande e gordo aprendera desde novo a ter charme com isso em vez de se atrapalhar. As mulheres gostavam dele. Amigos juntavam-se à sua roda: o almoço em Sintra no sábado mais perto do dia dos seus anos - 24 de Agosto - entrara no calendário de Verão de muito boa gente. Desde comunistas como ele - aos 17 anos punha a ‘Internacional’ no «pick-up» aos berros, com a janela aberta, na esperança (vã) que sentinelas de um departamento da marinha ao lado a passassem a assobiar - até cépticos conservadores como eu. De há um tempo para cá passámos a beber pelos que nos tinham deixado desde a festa do ano anterior. Este ano vamos beber por ele.
27.5.08
Do blog "Sintra do avesso" por João Cachado
Na passada quarta-feira, dia 21, morreu em Londres Bartolomeu Cid dos Santos. Ia nos setenta e seis anos, solto das coordenadas do tempo, um menino, é verdade, grande e gordo, amante das boas coisas da vida e preocupado com as mais sérias questões da vida. Venho contar-vosda nossa relação de amizade, indissociável do comum amor a Sintra.
Naturalmente, a outros deixo as referências biográficas deste grande nome da arte portuguesa contemporânea. Todavia, imperioso se revela abordar um ou outro aspecto da vida do homem e do artista, especialmente porque tive o privilégio de beneficiar do seu encanto, em doses inesgotáveis, na sábia sedução que imprimia às conversas pelos caminhos da Arte.
Desde logo, mencionaria o pai, o famoso médico Prof. Cid dos Santos, conhecido humanista, homem de grande cultura, a quem o filho muito viria a dever por toda uma formação e educação direccionada para as artes e humanidades. O Bartolomeu menino estudou, por exemplo, música e alemão, absolutamente determinantes para que, mais tarde se revelasse o inevitável melómano em que se tornou.
Apetecia reproduzir episódios que me contou da sua meninice, tantos e tão ilustrativos desse tempo em que, por ser filho de quem era, pôde contactar a fina flor da intelectualidade portuguesa e internacional, nas salas e à mesa da sua casa ou em viagens inesquecíveis e únicas. Como certa deslocação a Paris, com o pai, por essa estrada fora, no automóvel da família, parando em Espanha, a visitar o médico e escritor Gregorio Marañon, em cuja casa foi descobrir uma autêntica e surpreendente galeria, com obras dos mais notáveis artistas, recentes e de épocas passadas.
Um grande melómano
Comigo, Bartolomeu partilhava o gosto pela música. Quando percebeu que, tal como para ele, a língua alemã é, também na minha perspectiva, instrumento inseparável do acesso a particularidades do universo de Wagner, concluiu que podia confessar-me as suas mais remotas experiências pessoais e directas, ainda miúdo, por exemplo, com a Tetralogia do compositor de Bayreuth.
Em especial, falou de certa récita do Siegfried que assistira em São Carlos, em plena guerra, quando o mítico maestro Knappertsbusch veio a Lisboa dirigir a Filarmónica de Berlin, na mesma oportunidade em que alguns músicos desta orquestra tinham jantado em sua casa… Se isto não é privilégio, então desconheço o que isso seja. Mas compreendo que, por causa das invejas, apenas se conte aos iniciados…
Com ele, a conversa nunca era coisa gratuita e, pelo contrário, sempre estimulante e oportunidade para saber mais. Melómanos inveterados, envolvemo-nos em discussões muito vivas e interessantes. Não raro, tive de recorrer à mais diversa documentação e bibliografia, para sustentar ou corrigir alguma opinião, dele ou minha, para esclarecer qualquer dúvida pertinente.
Neste domínio, em diferentes ocasiões, cheguei ao ponto de incomodar um grande amigo, o Dr Mário Moreau que, com o seu enciclopédico conhecimento do mundo da ópera, nos ajudou a clarificar aspectos mais ou menos obscuros que, também frequentemente, se revelavam altamente desafiantes, em diálogos sem fronteiras, em que toda a Arte, desde a poesia, à pintura, à gravura, à música, em que a política e, particularmente, a participação cívica se articulavam em coerente mosaico.
Sintra, uma preocupação
Contudo, muito sintomaticamente, o que nos fez aproximar não foi a melomania. Deu ele o primeiro passo, precisamente por intermédio do Jornal de Sintra, através de um artigo que subscreveu, em simultâneo com uma carta que me dirigiu, a propósito do estado lamentável do centro histórico, coisa que ele sentia na pele, na medida em que a sua casa, nas Escadinhas da Fonte da Pipa, constituía ímpar ponto de partida para a melhor avaliação.
O Bartolomeu era homem de esquerda, senhor de fortes convicções políticas. Como alguns de nós, mas contra a opinião dos mais poderosos, acreditava na capacidade de mudar a polis, através da participação em lutas de intervenção cívica, na possibilidade de viver uma vida democrática que ultrapasse a retórica dos discursos inconsequentes e se comprometa com as pessoas, com os seus problemas reais e concretos.
Uma das causas que mais o mobilizava era a da defesa e preservação do património, questão bem real e concreta que, inequivocamente – se for perspectivada numa actuação integrada e abrangente – pode contribuir para a mudança em geral e para a melhoria da qualidade de vida em particular. Se alguma prova necessária fosse, demonstrativa do seu empenho, bastaria recordar o apoio pessoal à iniciativa da discussão dos problemas do bairro da Estefânea. Tive-o, exactamente ao meu lado, na mesa que conduziu o aceso debate daquele dia 22 de Março de 2004…
Tinha a família entranhada em Sintra há várias gerações, não estava sempre por aqui mas, quando estava, adorava. E, muito naturalmente, também sofria, como só pode quem assiste à contínua degradação desta sede de concelho que, afirmava ele constantemente, merece outro cuidado, uma gestão adequada às características, ao perfil e ao espírito do lugar.
O artista empenhado
Era um grande senhor da Cultura Portuguesa dos nossos dias. Há mais de cinquenta anos, fundara a Gravura, sociedade cooperativa de artistas gráficos que, em termos concretos e práticos, constituía uma entidade cujos objectivos eram afins da sua postura e filiação política. Como lembrava José Cutileiro, no Expresso do sábado passado, pelos seus dezassete anos, Bartolomeu era já um jovem comunista, capaz de pôr a tocar A Internacional, no ‘pick up’ aos berros, em manobra provocatória…
Mesmo em termos internacionais, Barto – como era conhecido lá por fora – é um nome incontornável da gravura, tão grande e significativo que os ingleses lhe souberam reconhecer o enorme mérito, admitindo-o como professor da célebre Slade School of Fine Arts de Londres, já no princípio dos anos sessenta, ali se mantendo até noventa e seis, altura em que se aposentou. Altamente honrosa, a sua nomeação como professor emérito de Arte da Universidade de Londres e membro da Real Sociedade Britânica de Pintores e Gráficos.
Detentor de um currículo espantoso, foi professor convidado e consultor de várias universidades europeias, fez inúmeras exposições por esse mundo. A fundação Gulbenkian que, como é sabido, não dá ponto sem nó, e só mesmo aos muito grandes dá a honra da promoção de exposições retrospectivas, concretizou uma sobre a obra de Bartolomeu Cid dos Santos cuja concepção era extremamente interessante, tendo constituído assinalável sucesso.
Que homenagem?
Em cerca de três meses, deixaram-nos dois nomes máximos das Artes e Letras portuguesas. Só a sintrense universal incultura se pode permitir não dar o devido destaque à perda de Maria Gabriela Llansol e Bartolomeu Cid dos Santos. Pensar que a sua memória se honra com o minuto de silêncio da ordem, não passa de brincadeira com coisas sérias…
Aliás, depois de tão atrabiliárias concessões de medalhas de ouro do concelho, a figuras totalmente insignificantes cá do burgo, também não imagino o que poderá a Câmara fazer… Uma coisa eu sei, que várias vezes me confessou. Dar-lhe-ia muita alegria ver recuperada a casa de Mily Possoz [será que esta gente dois serviços alguma vez ouviu falar dela?...], outra grande mas esquecida artista, que morreu em Sintra em 1967. Era sua vizinha. Se for necessário, podem contar comigo para lá ir indicar onde fica.
Cá por mim, à guisa de pessoal celebração, mal acabe de escrever este texto, tenho preparado o leitor de CD para ouvir o Acto III de Götterdämmerung (Crepúsculo dos Deuses) de Richard Wagner. Vou escutar este sublime momento da ópera, sob direcção e na leitura de Sir Georg Solti, 1973, dirigindo a Filarmónica de Viena, em que Birgit Nilson, Wolfgang Windgassen, Dietrich Fischer-Dieskau, Christa Ludwig Luccia Popp, e Gwyneth Jones assumem, respectivamente, as personagens de Brünnhilde, Siegfried, Gunther, Waltraute, Woglinde e Wellgunde.
O Bartolomeu tinha esta versão em lugar altíssimo. Para mim, constitui referência máxima. Neste ramalhete das maiores estrelas, há interpretações inultrapassáveis, perfeitamente paradigmáticas, intemporais. Ah, vou acompanhar a audição bebendo um Collares que, pois claro, já está aberto, já foi provado e aprovado. E tenho a certeza de que o Bartolomeu também aprovará esta minha celebração da Vida, da Arte e da Cultura (maiúsculas, à alemã…) com um copo do nosso melhor vinho.
À nossa querida Sintra! Até já, Bartolomeu…
25.5.08
Do blog "Dar corda ao neurónio"
Do blog "Chá de Letras"
24.5.08
Partido Comunista Português sobre Bartolomeu Cid dos Santos
Nota do Gabinete de Imprensa do PCP
Do blog "sem-se-ver"
Do blog "O tempo das cerejas" por Vitor Dias
Um adeus a Bartolomeu Cid
Embora com o atraso de um dia em relação à imprensa, do qual me penitencio vivamente, quero assinalar aqui, sob a forma de homenagem, o falecimento na passada quarta-feira de Bartolomeu Cid dos Santos (ver biografia em baixo), um artista plástico com uma vasta obra e muito mérito, um homem bom e generoso, um cidadão íntegro, vertical e de sólidas convicções progressistas, membro do PCP desde há muitos anos e cujas obras tiveram sempre uma presença regular nas Bienais de Artes Plásticas da Festa do Avante!. Não o conhecia pessoalmente, mas conhecendo o que alguns dos seus amigos mais próximos dele me diziam, posso bem calcular o que sua morte representa não apenas para os seus familiares mas também para o universo de amigos que ele tanto estimava e que tanto o estimavam a ele. É por isso que posso, por exemplo, contar que Bartolomeu Cid mandava sempre aos amigos um cartão de Boas Festas feito por ele, habitualmente uma pequena gravura desenhada e impressa expressamente. Este ano, já doente, deu-se ao trabalho de até as pintar a lápis de cera... Este seu último cartão é reproduzido já a seguir:
Do blog "Quinta Cativa" por Vitor Gil Cardeira
Bartolomeu Cid dos Santos, um dos nomes maiores da gravura europeia, faleceu hoje em Londres. Vivendo e trabalhando parte do ano em Tavira, foi responsável pelo dinamismo dos últimos anos da Casa das Artes e pela sua oficina passaram dezenas de jovens que beberam sofregamente as lições do Mestre. As sementes continuarão a brotar...
Amante da cidade, deixou como desejo que as suas cinzas fossem lançadas no seu amigo Rio Gilão.
Lá o continuaremos a acompanhar subindo e descendo ao ritmo das marés. Tavira estará com ele e ele com a cidade até ao fim dos dias.
BARTOLOMEU CID DOS SANTOS FALECEU AOS 77 ANOS
Faleceu na passada quarta-feira, em Londres, o artista plástico Bartolomeu Cid dos Santos. Tinha 77 anos. Nascido a 24 de Agosto de 1931, estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa de 1950 a 1956. De 1956 a 1958 continuou os estudos com Anthony Gross, na Slade School of Fine Art em Londres, onde viria a leccionar no Departamento de Gravura entre 1961 e 1996.
Um dos grandes nomes da gravura portuguesa, Cid dos Santos expôs individualmente pela primeira em 1959, na Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa, realizando desde então 82 exposições individuais, pela Europa, América e Extremo Oriente. Os painéis da estação do Metro de Entrecampos em Lisboa são da autoria do artista, que era representado pela Galeria 111 desde 1969.
Bartolomeu Cid dos Santos era Emeritus Professor in Fine Art da Universidade de Londres, Fellow do University College London e membro da Royal Society of Painter Printmakers. Foi artista visitante em inúmeras escolas de Belas Artes na Grã-Bretanha e ainda professor visitante da Universidade de Wisconsin, em Madison (1969 e 1980), na Konstkollan Umea, Suécia (1977 e 1978), no National College of Art em Lahore, Paquistão (1986 e 1987) e na Academia de Artes Visuais de Macau.
Cumprindo o desejo do artista, as suas cinzas serão lançadas ao rio Gilão, em Tavira, cidade em que queria instalar-se definitivamente e onde nascerá o centro de desenho e gravura de Bartolomeu dos Santos, que o próprio pretendia criar.
Do blog "Da Literatura" por Eduardo Pitta
23.5.08
Xixuanet - "Fallece el artista plástico portugués Bartolomeu Cid dos Santos"
El artista ya se encontraba enfermo desde hace algún tiempo, según Amorim de Sousa.
Bartolomeu Cid es una figura "fundamental en la evolución de los grabados", un artista de "dimensión internacional" y conocido dentro y fuera de Europa, dijo de Sousa.
Bartolomeu Cid dos Santos nació en 1931 en Lisboa, estudió en la Escuela Superior de Bellas Artes entre 1950 y 1955, y continuó su formación en la Slade School of Fine Art en Londres de 1956 a 1958, con Anthony Gross.
Cid dos Santos fue también profesor de la Slade School of Fine Art de Londres, de 1961 a 1996, en el Departamento de Grabados.
También fue artista visitante en varios centros similares en Gran Bretaña.
Do blog "Blogoperatório" por José Teófilo Duarte
Bartolomeu Cid dos Santos morreu. A notícia não foi primeira página dos jornais. Nem abriu os noticiários televisivos. Não percebo porquê. Ou talvez perceba.
do blog "Cacimbo", assinado Zigoto
Caixas de Memórias foi o título da última exposição de Bartolomeu dos Santos realizada há um ano em Lisboa.
Este mestre da gravura – que ensinou as técnicas da água-forte e água-tinta a Paula Rego, de quem se tornou amigo – faleceu quarta-feira em Londres, vítima de um linfoma.
Bartolomeu dos Santos nasceu em 1931, em Lisboa. Estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa 1950-56Slade School of Fine Art 1956-58 com Anthony Gross.De 1961 a 1996 ensinou no Departamento de Gravura da Slade School.
É Emeritus Professor in Fine Art da Universidade de Londres e Fellow do University College London.É membro da Royal Society of Painter Printmakers.
Foi artista visitante em numerosas escolas de Belas Artes na Grã Bretanha. No estrangeiro foi professor visitante da Universidade de Wisconsin, em Madison (1969 e 1980), na Konstkollan Umea, Suécia (1977 e 1978), no National College of Art em Lahore, Paquistão (1986 e 1987) e na Academia de Artes Visuais de Macau em numerosas ocasiões.Teve a sua primeira exposição individual em 1959, na Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa. Desde então expôs individualmente 82 vezes em Lisboa, Porto, Frankfurt, Rotterdam, Detroit, Madison, Angra do Heroísmo, Oxford, Londres, Umea, Johanesburg, Cape Town, Tóquio, Paris, Nassau, Antuérpia, Cidade do México, Wiesbaden, Heidelberg, Bonn, Meinz, Islamabad, Glasgow, Karachi, Braga, Sheffield, Luxemburgo, Granada, Tavira, Macau, Funchal, Osnabrüch, Lahore e Rabat. Em 2001 tem duas retrospectivas, respectivamente no Centro Cultural de Cascais e em Londres na Galeria do London Institute.
Expôs pela primeira em 1940 na Exposição de Arte Infantil de O Século na S.N.B.A. onde obteve o prémio de desenho.
Em 1951 expôs na 6ª. Exposição Geral de Artes Plásticas da S.N.B.A.. Desde então expôs colectivamente cerca de duzentas vezes em Portugal e no estrangeiro, destacando-se Avant Garde British Printmaking 1914-1960 no Museu Britânico, em 1990 e 2000, Signatures of the Invisible em Londres, na Atlantis Gallery.
Em 1989 teve uma retrospectiva no C.A.M. da Fundação Calouste Gulbenkian.
No catálogo de “Caixas de Memórias”, pode ler-se:
“ Caixas de Memórias tem um duplo sentido, denotativo e simbólico. A maior parte das obras são caixas, objectos utilitários que o artista subverte, desvia da sua finalidade, transforma em objecto “outro”, não deixando de questionar em tom provocatório o novo estatuto que adquirem: “Is this art?”
As caixas servem, por definição, para guardar objectos, ocultá-los, preservá-los. As caixas de Bartolomeu dos Santos abrem-se na transparência de uma face de vidro, revelam segredos guardados na memória. São caixas mágicas onde sorriem sereias aladas, pacientes Penélopes à espera de Ulisses. Nas imagens femininas transparece uma terna ironia de que reencontramos eco nas alusões explícitas a Fernando Pessoa e ao seu heterónimo Ricardo Reis, seres de uma realidade mítica criada pela poesia. Estas figuras remetem para a viagem, para um mar que conduz a ilhas de prazer ou a portos seguros.
A maior parte das caixas desvendam memórias menos pacificadoras, contêm uma amálgama de ruínas: pedaços de objectos devastados, calhaus, estilhaços de espelhos, fragmentos ilegíveis de um passado que desconhecemos. Outras ainda transportam-nos para oceanos de perigos e batalhas, onde se inscrevem referências históricas alusivas a guerras e naufrágios.
Não é apenas “Under the surface” que nos revela tesouros submersos, cada uma e, no seu conjunto, todas estas caixas e telas são “flashes” de uma narrativa maior, em que individual e colectivo, mito e História, ficção e realidade, morte e memória se entrelaçam em vida habitada por sonhos e pesadelos, corpos doces e destroços, barcos de viajantes-poetas e navios de guerra, muitas interrogações e algumas certezas”.